Revelação, Visão e
realidade
Vamos começar hoje a nossa caminhada
para reafirmarmos a prática da visão de células na vida da Igreja. Já estamos
praticando essa visão por mais de quinze anos e temos experimentado
crescimento, vida abundante e uma sólida edificação da Casa de Deus. Mas ainda
precisamos avançar mais.
Não é simples trazermos para a nossa
prática aquilo que já sabemos em nossa mente. Frequentemente professamos crer
de uma forma, mas agimos de forma contraditória sem nem mesmo nos darmos conta
disso. Creio que temos a revelação do Senhor sobre a sua casa, mas precisamos
de espírito de sabedoria para a colocarmos em prática.
Não é por acaso que a única oração de
Paulo em suas epístolas é para que os crentes recebessem espírito de revelação
e sabedoria.
Não cesso de dar graças por vós,
fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no
pleno conhecimento dele. Ef. 1:16-17
Paulo nunca orou para que as igrejas
crescessem. Será que o crescimento não era algo importante para ele? Eu creio
que sim. Penso que ele nunca orou por crescimento porque ele sabia que o
crescimento seria o resultado natural de uma igreja cheia de revelação e
sabedoria.
Essa também tem sido a nossa oração
nesses dias. Precisamos aprender a aplicar as verdades da visão em cada aspecto
de nossa vida. Precisamos abandonar toda contradição.
No processo de Deus de trazer a sua
verdade para a nossa experiência passamos por três fases: a revelação, a visão
e a realidade. Podemos perceber esta seqüência na experiência de Pedro em
Mateus 16 e 17. Num primeiro momento ele teve a revelação de que Jesus era o
Filho de Deus, depois ele subiu com Jesus no monte e pode ter a visão. A visão
seguiu a revelação. Mas mesmo depois de termos a visão podemos falhar na
aplicação, na realidade, como vemos a falha de Pedro na questão do pagamento do
imposto.
Esta seqüência da experiência se aplica
a qualquer verdade espiritual, mas pode ser particularmente perceptível no
processo de estabelecimento da visão de células. Vamos ver cada momento da
experiência de Pedro a aplicá-la à visão que temos praticado.
Revelação
Indo Jesus para os lados de Cesaréia de
Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E
eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou
algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo
Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que
to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Mt. 16:13 a 17
O primeiro estágio da experiência de
Pedro foi a revelação. O povo dizia que Jesus era Jeremias, João Batista ou
algum dos profetas, mas Pedro recebeu a revelação: “Ele é o filho do Deus
vivo”. Foi Jesus mesmo quem disse: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque
não foi carne e sangue que te revelou, mas meu Pai, que está nos céus.”
A primeira fase é sempre a revelação.
Revelação é simplesmente ter algo desvendado diante de nossos olhos, antes não
víamos, éramos cegos, mas agora vemos claramente.
Este é o primeiro estágio de qualquer
propósito ou chamado. Muitos nem sequer pensavam a respeito da visão de
células, mas houve um dia em que ouvimos algo, uma pregação um testemunho e
aquilo tornou-se claro para nós.
Depois de ter a revelação Pedro mudou
de nome, de identidade, é como se a partir de agora ele fosse outra pessoa.
Antes era apenas Simão, mas agora seria chamado de Pedro. Creio que o mesmo tem
acontecido com muitos de nós. A revelação da visão de células tem mudado nossa
identidade, somos vistos e conhecidos de outra forma, e as pessoas até mesmo se
referem a nós como aqueles que seguem uma visão.
Mas a revelação somente não é
suficiente. A mudança de Pedro não foi tão profunda quanto se esperava. Logo
depois da revelação tremenda de Jesus como Filho de Deus Pedro foi severamente
repreendido por Jesus. O Senhor chegou mesmo a repreender o diabo em Pedro. Ele
sabia quem Jesus era, mas não entendia as implicações desta revelação (V. 21).
Muitos têm tido a revelação das
células, mas não entendem as implicações práticas de tal revelação. Entenderam
o princípio, mas desconhecem os valores desta revelação. Receberam a revelação
da realidade da vida da Igreja nas células, mas ficam chocados quando percebem
que a distância entre esta revelação e a prática é quase astronômica.
É um tempo de confusão e perplexidade.
A revelação queima em nosso coração, mas não podemos operacionaliza-la,
sentimos um grande impulso de avançar, mas de forma assombrosa sentimos que nos
falta algo e empacamos. Se tivermos fé e ousadia suficiente poderemos entrar no
segundo estágio, a visão.
Visão
É interessante que mesmo recebendo uma
repreensão tão severa do Senhor Pedro ainda foi convidado para ter uma
experiência no monte e ter o estágio seguinte da revelação: a visão.
Seis dias depois de receber a revelação
Pedro foi levado a um alto monte e ai o Senhor foi transfigurado diante dele.
Antes ele recebera a revelação, mas agora ele podia ver com os próprios olhos
que de fato Jesus era o filho de Deus.
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a
Pedro e aos irmãos Tiago e João e os levou, em particular, a um alto monte. E
foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas
vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias,
falando com ele. Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se
queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para
Elias. Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da
nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele
ouvi. Mt. 17:1e 5
A visão vem sempre depois da revelação.
Quando temos visão sem revelação ela é apenas uma experiência mística.
Quando temos a visão a sensação é como
a que os discípulos tiveram, ficamos completamente extasiados. É comum ouvirmos
pessoas dizendo: “nunca pensei que os grupos eram algo tão bom!” “Como é
possível eu ter vivido todos esses anos sem a visão da igreja nas casas?”,
dizem muitos. A visão é empolgante, é contagiante.
A revelação pode ser algo ainda meio
distante e embaçado, mas a visão é nítida, prática e operacional. Começamos a
entender os meios de entrar na prática, chegamos mesmo a ter alguma experiência
e podemos testificar que a visão é boa e mana leite e mel.
A revelação é subjetiva, mas a visão é
mais nítida e objetiva. Pedro tinha tido o entendimento de que Jesus era o
filho de Deus alguns dias antes, mas agora no monte ele está vendo Jesus
transfigurado em glória diante de seus próprios olhos atônitos.
Mas a história não termina aqui. Vendo
Elias, Moisés e o próprio Senhor em glória, Pedro sugeriu que se fizesse três
tendas, mas ele é interrompido pelo próprio Deus Pai que troveja do meio da
nuvem dizendo: “este é meu Filho amado em quem tenho todo o prazer”.
Pedro havia recebido tudo o que seria
possível receber. Primeiro ele recebeu a revelação, depois teve a visão e agora
ouviu o próprio Deus lhe dizendo que Jesus era seu filho. Isto é o máximo que
alguém pode receber de instrução.
Mas mesmo diante de tudo isso Pedro
ainda não foi capaz de aplicar o conhecimento de que Jesus era o Filho de Deus
na sua experiência. Infelizmente essa tem sido também a nossa experiência.
Temos a revelação, tem os a visão, mas ainda temos enorme dificuldade de
aplicarmos essa visão à nossa realidade.
Realidade
Depois de cada experiência vem o
trabalho de Deus em nós com o fim de consolidar essa experiência em nossa
prática de vida.
No capítulo 16 Pedro teve a revelação
que Cristo é o Filho do Deus vivo, seis dias depois ele teve a visão de Cristo
glorificado no monte, e ainda ouviu o própria declaração de Deus de que Jesus
era o seu filho. Daquela hora em diante Pedro não podia dizer que não sabia
quem era Cristo, ele tinha tido a revelação e a visão.
O problema é que mesmo depois de ter
uma revelação seguida de uma visão ainda podemos ter uma imensa dificuldade de
fazer uma aplicação prática. Alguns, por exemplo, já têm a revelação do
princípio da cruz, já receberam luz de Deus, mas quantos conseguem aplicar o
princípio da cruz em seu relacionamento conjugal? Muitos têm tido a revelação e
até a visão das células, mas quantos têm conseguido aplicá-las na prática?
Numa ocasião aconselhava um casal que
tinha tido um sério conflito conjugal. O marido tinha chegado ao ponto de empurrar
agressivamente a sua esposa. Eu então lhe disse: “Como você teve coragem de
agredir a Cristo? Ele, meio encabulado disse que não entendia o que eu queria
dizer. Então lhe expliquei que a sua esposa era membro do corpo de Cristo e que
agredi-la era o mesmo que agredir ao próprio Cristo. Ele certamente sabia
doutrinariamente que a sua esposa era membro do corpo, mas ele não conseguia
aplicar aquele conhecimento à sua prática.
Noutra ocasião eu disse a um outro
casal que cogitava se divorciar: “como vocês podem declarar que Cristo vai
divorciar-se da igreja? Eles ficaram perplexos. Então lhes expliquei que o
casamento deles era uma figura de um casamento maior entre Cristo e a igreja.
Eles estavam transmitindo a mensagem que se formos imperfeitos o Senhor também
vai nos abandonar. Eles certamente sabiam dessa verdade. Não era novidade para
eles, mas eles simplesmente não eram capazes de aplicá-la a eles próprios.
Foi exatamente isso o que aconteceu com
Pedro. No final do capítulo ele foi questionado pelos cobradores de impostos se
Cristo pagava o imposto das duas dracmas, Pedro respondeu precipitadamente
segundo o seu conceito natural e não segundo a sua revelação e visão. Ele não
conseguiu fazer uma ponte entre a visão a exigência da situação prática. Ele
não conseguia enxergar a ligação entre Cristo ser o Filho de Deus e a
necessidade de pagar o imposto do templo.
Tendo eles chegado a Cafarnaum,
dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas e perguntaram:
Não paga o vosso Mestre as duas dracmas? Sim, respondeu ele. Mt. 17:24 a 25
O imposto das duas dracmas era um
imposto para manter o templo (Ex. 30:12-16 e 38:26). Se Pedro tivesse se
lembrado da revelação, da visão no monte e até da voz do Pai dizendo que Jesus
era o filho amado não teria respondido assim, mas ele respondeu segundo o seu
conceito natural.
Por isso logo ao entrar em casa Jesus
se antecipou e perguntou a Pedro: “Simão, que te parece? De quem cobram os reis
da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos? Respondendo
Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos. Preste
atenção Pedro, os filhos não pagam, lembra da revelação Pedro? e da visão no
monte? lembra do pai dizendo que eu era o filho? Pedro lembre-se da revelação e
da visão, eu sou o Filho de Deus, não preciso pagar. Demorou cair a ficha, mas
Pedro deve ter entendido. Jesus mandou que ele fosse pescar um peixe onde ele
encontraria uma moeda na goela ( Mt. 17:25-27). Penso que é para que Pedro
pudesse ter tempo de meditar em todas as implicações de se conhecer a Cristo
como filho de Deus. Ele de fato teve a revelação e a visão, mas não conseguia
aplicar tudo isso na sua vida prática.
Uma coisa que precisamos aprender
nesses dias é andar de acordo com a revelação e a visão recebida. Precisamos
aprender a aplicar a revelação e a visão a todas as áreas de nossas vidas.
Vejamos algumas situações práticas. Muitos têm visão de células, mas são
extremamente clericais, creem que cada crente é um ministro, mas permitem que
alguns poucos liderem. Dizem ser uma igreja em células, mas são incoerentes na
aplicação dos valores.
Em qual estágio você se encontra hoje?
Se ainda não teve a revelação das células essa mensagem deve estar parecendo
algo distante e incompreensível. Não fique assustado, vá buscar a Deus e ele
vai abrir os seus olhos.
O conhecimento precisa
vir junto com a sabedoria
Já temos recebido revelação e
conhecimento, mas agora precisamos receber sabedoria para aplicarmos esse
conhecimento em nossa prática. Conhecimento é saber a verdade. A sabedoria é
saber como aplicá-la. Conhecimento é saber que o tomate é uma fruta, mas
sabedoria é não colocá-lo em sua salada de frutas.
O conhecimento é extremamente
importante. O que acreditamos tem uma influência enorme sobre a nossa vida, e o
que acreditamos, em última análise vem do que nós conhecemos. Mas nós nunca
deveríamos parar apenas no conhecimento. Precisamos avançar e aprender como
aplicar essa verdade. Este é passo da sabedoria.
Muitos se contentam em acumular
informações. Isso é conhecimento. Mas poucos sabem o que fazer com o
conhecimento adquirido. Eu não quero apenas ter conhecimento, eu quero saber
como aplicar esse conhecimento na minha vida. Este é o momento onde a
sabedoria torna-se necessária.
Em Mateus 16 Pedro recebeu o
conhecimento de que Jesus era o Filho de Deus, mas no capítulo seguinte, quando
perguntado se Jesus pagava o imposto do Templo, Pedro não conseguiu aplicar o
conhecimento adquirido para dar uma resposta adequada. Jesus depois lhe
explicou que uma vez que ele era filho ele não precisava de pagar o imposto
para cuidar da casa do seu pai.
Pode ser que você já tenha a revelação.
Você compreendeu a importância e a necessidade das células, mas ainda precisa
ter os olhos abertos para ser incendiado com uma visão celestial. Algo que faça
você desejar armar tendas e viver nessa visão.
Mas depois da revelação e da visão vem
o estágio mais difícil, entrar na realidade da visão. É o momento em que a
maioria falha. Pare agora mesmo e pergunte a si mesmo: como essa visão vai
afetar cada aspecto da minha vida e da minha igreja? Se você conseguir
responder esta pergunta você estará no caminho de ser aprovado e entrar na
realidade da visão de Deus.