A estratégia maligna

A estratégia maligna

Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.

Deus tem um desejo no seu coração. Podemos dizer com toda certeza que o desejo de Deus é colocar-se a si mesmo dentro do homem. Deus deseja que Cristo habite dentro de um povo de modo que este povo seja seu próprio corpo vivo, uma extensão de si mesmo. 

O propósito eterno de Deus tem um ponto central. Toda a Bíblia tem um ponto central. E o ponto central em torno do qual giram todas as outras verdades espirituais é este: “ Cristo em nós “. Cristo sendo a nossa vida.

Uma vez que cada crente possui a vida de Deus dentro de si ele está apto para ser um ministro, um sacerdote do Senhor.

Depois da ressurreição e ascensão do Senhor, Deus começou a concretizar o seu  propósito de ter entre os homens uma expressão viva de Cristo. Este é o eterno desejo de Deus que será concretizado nessa época em que vivemos. Se não desviarmos os nossos olhos e não tivermos outras preocupações esta visão da Palavra de Deus ficará clara para nós. A igreja é o mistério de Deus oculto desde a eternidade.

A visão de Deus é maravilhosa, mas logo depois que o Senhor começou o seu projeto, Satanás veio para interferir e tentar impedir os planos de Deus. A história da Igreja na terra já vai para quase dois mil anos e em todo esse tempo Satanás esteve bastante ativo no seu intento destrutivo. Inúmeras vezes e de várias formas ele tem agido contra a Igreja. Há uma maneira bem simples de estudarmos as estratégias do inimigo. Podemos dividi-las em três fases durante a história nesses dois mil anos:

Primeira estratégia - Desviar os olhos do “Cabeça”, Cristo

O centro da vida cristã é o próprio Cristo. Ele deve ser o nosso deleite, o centro e a realidade. A vida de Cristo deve ser cada vez mais superabundante em nós e por meio de nós. O seu propósito só pode ser alcançado se os nossos olhos estiverem focalizados em Cristo, desfrutando dele, deleitando nele e alimentando dele. Mas Satanás suscitou muitos substitutos sutis, muitas imitações inteligentes.

Desde os dias de Paulo podemos ver a ação do Diabo nessa direção. Paulo escreveu aos colossenses para tirar um substituto de Cristo que surgira deles: a filosofia. A filosofia humana havia sido introduzida para desviar os olhos de Jesus. Por isso Paulo escreveu dizendo-lhes que Cristo precisa ser tudo em todos (Cl.3:11). Paulo os advertiu que ninguém os enredasse com filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo. (Cl.2:8)

Na carta aos hebreus podemos ver que inimigo tentou usar a própria religião judaica para desviar olhos de Cristo. O Escritor aos hebreus procurou mostrar que Cristo está acima de todas as coisas e é melhor do que todas as coisas do Velho Testamento.

O livro de gálatas foi escrito para expor outro dos substitutos lançado pelo inimigo. A lei foi dada por Deus e era absolutamente santa, boa e justa mesmo do ponto de vista de Deus. Mas até mesmo isso foi usado pelo inimigo para desviar a atenção de Cristo.
Desta forma vemos que a filosofia, a religião e a lei são todas usadas para desviar o povo do próprio Cristo e desviar os seus olhos do centro.

Até mesmo os dons espirituais foram usados pelo inimigo tentando tirar a atenção de Cristo. Na carta de primeiro aos Coríntios, Paulo procura mostrar o caminho sobremodo excelente que é o próprio Cristo.

Hoje em dia isto ainda é muito comum. Deus me livre de dizer que os dons são coisas do passado ou que não vêm de Deus, mas devemos entender que os dons são instrumentos e não o centro do propósito de Deus. Muitos há que se envaidecem porque possuem um determinado dom e há outros que vivem numa disputa para ver quem tem mais dons. Tudo isso tem aparência de piedade, mas por detrás é obra maligna.

Se olharmos a história da Igreja depois do segundo século até os dias de hoje veremos ainda muitos outros substitutos. Um que tem sido muito usado é o ritualismo e a liturgia. Há aqueles que são rígidos, frios e que não permitem que Cristo se manifeste na reunião. Se o Espírito Santo na verdade se manifestasse em uma reunião assim não seria bem recebido. Colocaram a liturgia como dogma e vivem em função dela. 

Por outro lado há aqueles que repudiando esta atitude caem no oposto sem perceberem que também estão desviando os olhos do povo para fora de Cristo. São aqueles que colocam atrativos humanos nas reuniões. Quando o Senhor não está presente é certo que precisarão de outra coisa para substituí-lo. Surgem então os artistas da música com lindas vozes e belos instrumentos, verdadeiras bandas e orquestras que entusiasmam o povo e os atraem para o culto. 

Há ainda os artistas do púlpito que com suas mensagens engraçadas e divertidas atraem a muitos. Muitos não satisfeitos com isso ainda fazem produções teatrais, verdadeiros “shows” para agradar a congregação. Não somos contra nenhuma forma de  expressão, mas devemos ser bastante criteriosos e observamos se Cristo está sendo o centro de tal expressão litúrgica. Devemos voltar os nossos olhos para Jesus.

Muitas vezes até os próprios irmãos se tornam substitutos e ainda por vezes a própria teologia desvia o nosso olhar do centro quando se perde em discussões sobre pontos que reconhecidamente são secundários no espaço da vontade eterna de Deus. Devemos ser cuidadosos e vigilantes para não desviarmos os olhos do Senhor.

Mas nos deparamos com a pergunta, como corrigirmos este sério problema? Devemos evidentemente nos voltar para Jesus, mas a melhor estratégia para isso são as reuniões menores, as células. Vejamos alguns motivos:

a) Dificilmente na célula haverá oportunidade para discussões filosóficas, teológicas e coisas assim. Quando nos reunimos é para desfrutar do Senhor e edificarmos uns aos outros pela palavra e pelo Espírito.

b) Em uma célula não há liturgia nem formalismo religioso, pois tudo é feito espontaneamente. Também não há os atrativos das grandes reuniões como bandas de música, os “grandes pregadores“, os belos números especiais e assim por diante. Quem vai a uma reunião da célula está indo por causa de Jesus, pois não haverá outro atrativo que não seja Ele.

c) Nas células não há espaço para “shows“ de qualquer espécie que desviam a atenção do centro.

d) Nas células não há espaço para o ativismo religioso. Há muitos que pensam que o mais importe é construir prédios e cuidar de coisas materiais da obra de Deus. Isto também se constitui em um grande substituto para Cristo. É como aquela pessoa que está entediada e procura preencher seu tempo fazendo mil coisas. Nas células não se constrói nada e nem há patrimônio para ser preservado. Toda a atenção é voltada exclusivamente para Jesus e sua igreja.

A primeira grande estratégia do inimigo foi desviar os olhos do Cabeça do corpo e mostramos como as células são um instrumento divino para destruir esta estratégia.

Segunda estratégia - Tirar as funções dos membros do corpo

A partir do quarto século o inimigo criou o sistema de clérigos e leigos. Isto aconteceu logo depois que a igreja tornou-se a religião oficial do império romano. Depois de procurar de todas as formas desviar os olhos da cabeça e se possível deixar o corpo sem cabeça, que fez inimigo? Inventou um sistema de clérigos e leigos. Qual foi a sua intenção em fazer isso? Foi a de matar todas as funções dos membros do corpo. Originalmente todos os membros funcionavam adequadamente, mas gradualmente as funções foram sendo passadas para um pequeno número de cristãos. Desde que a maioria foi posta de lado o corpo ficou inutilizado, paralisado.

Observe bem a maneira como o inimigo agiu: primeiro tirou a cabeça do corpo, agora tirou as funções dos membros do corpo. Ele anestesiou o corpo. Devemos nos levantar contra esta estratégia maligna. Na igreja do Senhor todos são sacerdotes, todos ministram diante do altar, todos conhecem a Deus e todos tem acesso ao Santo dos Santos. Não há privilegiados.

Hoje em dia com tantos reverendos e doutores em divindade o inimigo tem conseguido anestesiar os membros para que não funcionem. Há dois tipos diferentes de funcionamento desta estratégia. O primeiro tipo é quando os clérigos se colocam acima dos leigos afirmando que são eles os que sabem, os que conhecem e portanto são incontestáveis. Chegam mesmo a proibir os membros de pregar, ensinar ou fazer qualquer outra coisa. Hoje em dia, em muitos lugares a única função dos membros é ir ao prédio da igreja e se assentar no banco olhando prá frente para ouvir o reverendo, o pastor. 

Transformamos a vida da Igreja em algo patético. Um certo desenhista plástico foi convidado para pintar um quadro retratando a igreja. No seu quadro ele pintou um monte de nádegas com dois olhos enormes em cima. Isso mostra realmente o retrato da igreja: um monte de nádegas com dois olhos esbugalhados. Os membros da igreja só sabem sentar e olhar pra frente, nada mais.Com as nádegas se assentam, com os olhos veem. São as únicas funções que desempenham.

O segundo tipo de clericalismo é consequência do primeiro. O povo fica tão acostumado a esta situação que ele mesmo contrata um pregador profissional, um funcionário do púlpito e exige que ele faça a obra de Deus enquanto eles apenas dão o dinheiro. No primeiro caso o clero proíbe o povo de falar. No segundo caso o povo não quer falar e obriga um profissional a abrir a boca.

Qual a estratégia devemos usar para combater esse veneno da serpente? Mais uma vez a minha resposta são os grupos menores, as células. Vejamos porquê:

a) Em uma célula todos tem oportunidade de falar e não apenas uns poucos privilegiados.

b) Em uma célula todos evangelizam. Hoje em dia evangelizar se transformou em simplesmente convidar para ir ao culto. Na célula, porém, não se faz apenas um convite para a reunião de domingo, mas se evangeliza lá  fora, onde os pecadores estão.

c) Na célula não existe um profissional à frente formado em alguma faculdade, mas o líder é formado pelo discipulado pessoal. Ainda que haja níveis de autoridade e diferentes funções, não há clérigos e leigos, todos funcionam, todos trabalham.

Terceira estratégia - Dividir o corpo

Veja que o inimigo em primeiro lugar tirou a cabeça do corpo, depois anestesiou os membros  tirou as suas funções, mas agora ele lançou seu último ataque, ele cortou o corpo em pedaços. Dividiu o corpo.

Satanás não ficou satisfeito com apenas os dois primeiros itens. Ele deu um outro passo criando todas as denominações e divisões do corpo de Cristo. Esfacelando o corpo o inimigo procura destruir a expressão de Cristo na Terra. A vida foi substituída, as funções foram anestesiadas e o Corpo foi cortado em pedaços.

Eu calculo que há em Goiânia cerca de 500 mil crentes. Suponha que estes 500 mil cristãos estivessem unidos numa única igreja em Goiânia. Que impacto seria! Se houvesse tal testemunho seria fácil conquistar toda a terra para Cristo. Qual o lugar neste planeta onde se pode dizer que o inimigo não causou todos esses três estragos? A expressão da igreja está realmente arruinada. Mas o Espírito está mudando esse quadro.

Temos visto o lado negro da questão, mas há outro lado que tenho que falar, Deus está se movendo na terra. Deus está restaurando a sua Igreja. Qual o caminho desta restauração? Creio que o caminho de ida deve ser o mesmo caminho de volta.

Em primeiro lugar devemos voltar toda a nossa atenção para Cristo como o centro da nossa vida. Devemos nos levantar contra substitutos e repudiar toda obra meramente humana sem a vida de Cristo como centro. 

Em segundo lugar o sistema de clérigo-leigos deve ser abolido de nosso meio. Todos os membros do corpo devem funcionar adequadamente. Precisamos rejeitar toda forma sutil de clericalismo.

Em terceiro lugar devemos buscar a restauração da Igreja. Devemos ser contra toda divisão humana. Não penso que as denominações vão se unir, mas creio que o povo de Deus que está dentro das denominações vão prevalecer na unidade. O povo de Deus é pela unidade, mas os líderes das instituições humanas querem resistir a Deus.

As celulas podem ser um instrumento de Deus para a restauração da unidade da Igreja. De que forma?

a) As células não são instituições e não tem nome na frente da casa como os templos religiosos.


b) Nas células o preconceito e as divisões são abolidas, pois cristãos de várias denominações que residem em um bairro se sentem livres para participar.

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